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CATAGUASES QUE TE QUERO VERDE

 

por RONALDO WERNECK

 

“— Cataguases é o meio do mundo.” — “Se duvidar, meça!”

Dito por um menino para outro, o futuro maior da Verde, Ascânio Lopes — citação feira por ele em artigo publicado
no Diário de Minas, de 17-09-1927.

 

        Após a eclosão do movimento modernista alavancado pela Semana de 1922, surgem as revistas Klaxon (São Paulo, 1922-23), Estética (Rio, 1924-25), A Revista (Belo Horizonte, 1925-26), Terra Roxa (São Paulo, 1926). Logo em seguida, aparece em Cataguases a revista Verde (1927-29), ponta de lança do modernismo numa cidade com pouco mais de 16 mil habitantes na época. Depois iriam aparecer a Revista de Antropofagia (São Paulo, 1928-29) e Festa (Rio 1927-238; 1974-35).

        Verde tirou sete edições, as cinco primeiras em 1927, uma em 1928 e a última em 1929, toda dedicada a Ascânio Lopes, que acabara de falecer, aos 22 anos. O primeiro número publicava apenas escritores mineiros — Carlos Drummond de Andrade, Emílio Moura, etc. — e entre eles os rapazes da cidade, núcleo de resistência de Verde e fundadores da Revista: Ascânio Lopes, Cristophoro Fonte-Boa, Camilo Soares, Enrique de Resende (o mais velho, então com 28 anos), Francisco Inácio Peixoto, Guilhermino Cesar, Martins Mendes, Oswaldo Abritta e Rosário Fusco.

        “Sou de Cataguases, cidadezinha pacata de Minas Gerais, e venho trazer a notícia de que eu e Henrique (mais tarde ele suprimiria o H) de Resende fundamos uma revista moderna aqui. Verde é o noma da baita” — escrevia o rapazola Rosário Fusco (17 anos recém completados) a Mário de Andrade. E pedia colaboração, acrescentando que acabara de “dar uma facada no Alcântara e no Oswald”. O primeiro contato do petulante Fusco foi com Antônio de Alcântara Machao, que daria os endereços dos outros modernistas (corre que Fusco teria “ordenado” a um deles: “Mande colaboração, seu bosta!”)

Tribuna livre

       E todos acabaram mandando textos e poemas, inclusive os dois Andradas, que no número 4 assinariam em conjunto, “Marioswald de Andrade”, o poema “Homenagem aos homens que agem”, que terminava com a estrofe que ficou famosa: “Todos nós/ Somos rapazes / muito capazes /* De ir ver de/ Forde verde/ Os azes/ de Cataguases”. Nunca foram, é bem verdade, mas tornaram-se assíduos na revista. Inclusive, Verde publicou em primeira mão capítulo inédito do Macunaíma de Mário.  E logo, além de Minas e São Paulo, surgem colaborações de várias partes do país e até mesmo do exterior — encomendadas por Ronaldo Fusco via Mário de Andrade, um dos grandes entusiastas da revista. Nacional e internacionalmente,  a revista Verde acaba se transformando numa tribuna livre “a todos os novos do Brasil e do mundo”.

        Em carata a Rosário Fusco, em 08.11.1927, escrevia Mário de Andrade: “Principiar é trabalho leviano que qualquer ombro de piá carrega. Porém em seguida a gente percebe que não pode ficar nessa de ir além e sobretudo ir mais profundo e que-dê estudo, que-dê base, que-dê treino e fôlego para isso?”  Entretanto, ao escrever sobre o livro Poemas Cronológicos – de Ascânio Lopes, Enrique de Resende e Rosário Fusco (Verde Editora, Cataguases, 19280 —, Tristão de Athayde contrapõe: “Os poetas de Cataguases não serão talvez grandes poetas, mas possuem sem dúvida um feitio próprio que não se explica apenas pela grande influência que o Sr. Mário de Andrade exerceu sobre eles. Têm mais alguma coisa — e esses alguma coisa é essa “alma de Minas”, que é das coisas mais preciosas que temos de contar para as grandes descaracterizações do amanhã”.

        Como registra Ivan Marques in  Modernismo em Revista (Editora Casa da Palavras, 201330, “nos últimos meses de 1927, o modernismo se transferiu em peso para Cataguases”. E acrescenta: “Espantoso, foi o adjetivo usado mais de uma vez por Mário de Andrade para se referir ao grupo, ao qual depois se juntariam outros qualificativos — milagre, fenômeno de Cataguases, proeza, milagre verde, etc, — todos pertencentes ao campo semântico da exceção se da anormalidade”.

O mesmo Mário que em carta a Rosário Fusco diria: “também quero ser verdinho que nem vocês”. E depois, dada a expansão de Verde e do movimento pelo interior do país, Mário antevia uma “cultura nacional”, que “exigiu da inteligência estar ao par do que se passava nas numerosas Cataguases”.

 

Verde é milagre”

       Mas a cidade, que hoje se orgulha de ter sido berço de Verde, fingia não ver, ou até mesmo rejeitava, a aventura de seus rapazes. Diria ainda Mário de Andrade para os rapazes e o olhar avesso com que eram vistos por parte da cidade, exatamente: “a cidadinha à qual haviam dado realidade geográfica”. E também José Américo de Almeida: “Eu sonhei com vocês: todo o Brasil espiando pra Cataguases e Cataguases dando as costas a vocês”.

       “Verde é milagre/não se explica, nem se inventa”,  diria Enrique de Resende em poema de 1967, ao saudar os 40 anos da revista. Na verdade, Verde durou pouco, mas ficou para sempre. Não só a revista como a editora com o mesmo nome, que fez de Cataguases a primeira cidade em que foram publicados livros modernistas. Em 1928, Poemas Cronológicos, de Ascânio Lopes, Enrique de Resende e Rosário Fusco; e Meia-Pataca, de Francisco Inácio Peixoto e Guilhermino César; em 1929, Fruta de Conde, de Rosário Fusco e 13 Poemas, de Martins Mendes. Somente em 1930 é que aparecem as primeiras obras modernistas de Belo Horizonte, como Ingenuidade, de Emílio Moura; Brasil Errado, de Martins de Almeida; e Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade. Drummond, inclusive, publicou vários poemas inéditos na revista Verde.

       Mais tarde, no profético texto “Cataguases 1937”, dizia Marques Rebelo: “O que a cidade não sabe é que Cataguases só existiu quando havia a Verde e o cinema de Humberto Mauro. Só será lembrada como uma realidade quando nos tratados de literatura se falar em certo interessantíssimo período de nossa cultura, que chamou o movimento modernista”. Em seu livro O Movimento Modernista Verde, de Cataguases – MG 1927-1929 (Instituto Francisca  de Souza Peixoto, Cataguases, 2009) — talvez o mais completo e bem acabado estudo sobre a revista e a Verde Editora — diz a autora Rivânia Maria Trotta Sant´Anna: “Uma das coisas que mais chamaram a atenção ao pesquisar o contexto em que o movimento Verde se desenvolveu, a
partir de consulta ao jornal Cataguases, foi o fato de ter percebido que a literatura, um certo status, mesmo sua obra não sendo bem compreendida. Talvez, pelo grande contingente de analfabetos existente no país, o fato de ser letrado e, mais ainda, literato, conferisse certa aura a essas pessoas”.


 

 

 
 
 
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